Quando a autocensura sabota a liberdade das mulheres no ato de se vestir
As mulheres estão sempre atrás de um aval, querem uma chancela para "poder" usar isso ou aquilo. É como se precisassem de algum tipo de autorização para o uso de determinada peça de roupa ou acessório. Sim, existem as diretrizes do dresscode corporativo, mas até isso já mudou bastante.
Recebo muitos questionamentos que permeiam o "mas eu posso?", já tão combatido, mas ainda muito presente na relação conturbada entre mulheres e o espelho. O mesmo acontece quando inicio um atendimento com uma cliente: questões com o corpo sempre são pano de fundo. Quem tem, quer esconder; quem não tem, quer criar. "Que calça veste melhor quem tem culote? Como faço para parecer mais alta? Quero disfarçar a barriga, tem como? Qual o melhor decote para busto grande?". E podemos ficar só nisso o texto todo.
Ninguém tem o poder de dizer o que você deve ou não usar, o que fica e o que não fica bom em você. Existem ferramentas para que essas questões sejam encaradas e trabalhadas no íntimo, rumo a uma resposta que será bem particular, de você com você mesma.
Expor o corpo ainda é um tabu, mas cobri-lo também é, e a preocupação com o que o outro vai pensar nos leva ao perigo da autocensura. Já parou pra pensar no tempo que passamos na companhia de blusas, calças, saias, sapatos e afins? Como usar por tanto tempo algo que não diz nada sobre você? Esses itens precisam ser, no mínimo, representativos. E a autocensura nada contra essa maré.
Aquele papo sério com o espelho precisa rolar todos os dias. Afinal, você se veste pra quem? Se a resposta "pra mim mesma" não sair rápida e espontânea, pode ter certeza que será para outras mulheres, para os homens, para se sentir adequada, para ser socialmente aceita… tudo, menos o que realmente importa: você.
Por isso, o autoconhecimento deve ser usado para mudar esse cenário. Quando a mulher aprende a ter um olhar mais generoso consigo mesma, a descobrir o que tem de melhor e a valorizar-se ainda mais, acaba deixando a segundo plano (quando não ignorando) o que a "desfavorece".
A mudança de paradigmas vem de encontro aos tempos em que vivemos, quando as mulheres buscam incessantemente igualdade entre os gêneros. E já que estamos inseridas nesse cenário de rótulos e padrões, é importante saber que, pelo menos, estamos juntas. Todas temos nossas questões, todas somos alvo dos padrões impostos por séculos, todas carregamos a cruz da perfeição, do belo aristotélico a ser alcançado.
E estamos juntas também no clichê para combater tudo isso: cada uma do seu jeito, com seu corpo, seu estilo, seu peso, sua altura, com seu lugar no mundo, enfim, com a sua beleza — essa palavra tão poderosa, mas de significado tão subjetivo, que nos rege numa busca muitas vezes sem destino certo. O que realmente importa é continuarmos livres — e ainda estão pra inventar algo mais belo que isso.
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